terça-feira, 9 de julho de 2019

Tecnologia e psiquiatria: o médico será substituível?

Qual o papel da tecnologia na medicina?
Cada vez mais, nos últimos congressos de psiquiatria e Neurociências, tem se abordado o papel das redes sociais, a realidade virtual, a inteligência artificial, o machine Learning e a telemedicina para manejo, diagnóstico e tratamento de transtornos mentais, e como essas relações permeiam as relações médico-paciente.

No APA (Encontro Anual da Academia de Psiquiatria Americana) de 2019, foi apresentado um software com acurácia de 80% avaliando a construção da linguagem e discurso desorganizado, alogia, psicoses e esquizofrenia. O software consegue fazer uma análise metafórica mostrando quem tem mais risco de desenvolver psicoses, sendo capaz de predizer disfunções de linguagem na infância e adolescência e quem tem mais risco de desenvolver transtorno psicótico no futuro.

A inteligencia artificial tem sido usada para monitorar risco de suicídio e intoxicação por substancias, sempre tendo a linguagem semântica e sintática, que podem ser aprendidas por algoritmos computacionais, identificando quando está destorcida da realidade.

Aparelhos medem movimentos, tom de voz e temperatura corporal, enriquecendo a inteligência artificial, aprendendo como funcionam uma linguagem normal e a inadequada.

Existe ainda, um software novo de psicoterapia que foi aprovado no Brasil, chamado Deprexis, que utiliza a Terapia Cognitivo-Comportamental, como base, realizando perguntas, que vão mudando de acordo com o padrão de resposta do paciente e fornecendo relatórios diários para o terapeuta e não excluindo a analise offline humana. 
Essa é uma das aplicações da inteligencia artificial. Aprendemos com a tecnologia e ela aprende conosco, ela precisa ser alimentada para que se desenvolva. 


Com relação ao uso dos aplicativos no manejo de pacientes com transtornos mentais.
O que é um aplicativo de saúde?
Quando eles podem ser considerados terapêuticos?
Hoje existem mais de 10.000 ditos de saude mental, quais são realmente úteis e quando devemos indica-los ou não?
Em atenção primária, há vantagens, com informações, esclarecimentos sobre a doença, conexão social com outros pacientes com o mesmo transtorno, e informações sobre os medicamentos. 

Quando usados por especialistas, somente 4% dos apps apresentam política de privacidade, se comprometendo a não fornecer informações, com aumento de risco e, portanto, temos de ter cautela.
Para que indiquemos, ele tem que demonstrar eficácia.
Infelizmente, nos estudos conduzidos, não tem diferido de placebos.

Os aplicativos de Terapia Cognitivo Comportamental não são eficazes, pois os pacientes dificilmente aderem ao tratamento e tendem a não seguir as sessões. 
Precisam ser fáceis de ser utilizados, muitos pacientes não têm facilidade de acessar e entender como funciona. 
Eles devem trazer um feedback, uma resposta ao paciente, de como ele está caminhando, se está melhorando ou não. Infelizmente, nenhum dos apps preencheu essas características.


Entretanto, apps que não são desenvolvidos pra transtornos mentais, como apps de música, são terapêuticos, principalmente para pacientes esquizofrênicos, pois reduzem estresse que sintomas psicóticos, como alucinações auditivas, podem causar. 

Por Gisele Serpa, psiquiatra

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