sexta-feira, 29 de março de 2019

Saúde mental na menopausa e climatério.

A vida nos convoca a resignificarmos nossas formas de ser e viver através das mudanças associadas aos eventos de vida e ao processo de envelhecimento. Estamos todos envelhecendo, é uma condição sine qua non para a vida, inevitável e natural. No entanto, mudanças diárias inerentes a essa condição, muitas vezes, passam despercebidas. Contudo, existem eventos ocasionados pelo envelhecimento que são perpassados por marcos biológicos e sociais, como é o caso da menopausa e do climatério. 
Menopausa é o termo utilizado para se referir ao fim da fase reprodutiva da mulher, já o climatério, designa o período posterior ao fim dessa fase. No climatério, diversas mudanças físicas e emocionais acontecem devido ao desequilíbrio na produção de hormônios femininos pelos ovários.  Muitos sintomas podem surgir, variando de intensidade conforme a conjuntura de cada mulher. 
Nesse contexto, é comum a identificação de alterações de humor (nervosismo, tristeza profunda, irritabilidade), sintomas que alteram não apenas a dimensão íntima da paciente, mas também a dinâmica de suas relações sociais (família, trabalho etc). A sintomatologia é comumente confundida com quadros psicopatológicos de depressão e ansiedade; sendo fonte de significativa angústia e conflitos para a própria mulher. É frequente o caso de pacientes que se isolam diante de tais mudanças que podem ser difíceis de administrar: a vergonha dos sintomas, medo de julgamento, peso do estigma etc. Esse isolamento tende a agravar o caso e dificultar o processo de ressignificação. 
É importante, contudo, buscar o acompanhamento e suporte de profissionais especializados a fim de trabalhar a situação não somente com o paciente, mas também com a família. O olhar do profissional é importante para que diagnósticos não sejam feitos de forma inapropriada e a melhor terapêutica seja escolhida.
Climatério não é sinônimo de depressão e ansiedade, mas pode se configurar como um terreno fértil para o surgimento de diversas formas de adoecimento psíquico. A menopausa e o climatério podem surgir para a paciente como um processo de luto diante das mudanças atreladas a essa condição e, assim, demandam tempo e suporte para elaboração.

Por psicóloga Fernanda Marinho

quarta-feira, 27 de março de 2019

Violência contra a mulher: precisamos falar sobre isso.

A violência afeta mulheres de todas as classes sociais, etnias e regiões brasileiras. Atualmente a violência contra as mulheres é entendida não como um problema de ordem privada ou individual, mas como um fenômeno estrutural, de responsabilidade da sociedade como um todo.
Apesar de os números relacionados à violência contra as mulheres no Brasil serem alarmantes, muitos avanços foram alcançados em termos de legislação, sendo a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) considerada pela ONU uma das três leis mais avançadas de enfrentamento à violência contra as mulheres do mundo.
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, mais conhecida como Convenção de Belém do Pará, define violência contra a mulher como “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (Capítulo I, Artigo 1°).
A Lei Maria da Penha apresenta mais duas formas de violência - moral e patrimonial -, que, somadas às violências física, sexual e psicológica, totalizam as cinco formas de violência doméstica e familiar, conforme definidas em seu Artigo 7°.
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu que qualquer pessoa, não apenas a vítima de violência, pode registrar ocorrência contra o agressor. Denúncias podem ser feitas nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) ou através do Disque 180.
Em 2015, a Lei 13.104 (Lei nº 13.104, de 2015) altera o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos. O feminicídio, então, passa a ser entendido como homicídio qualificado contra as mulheres “por razões da condição de sexo feminino”.

Muitas mulheres ainda sofrem violência no Brasil
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz alguns dados inéditos acerca da violência contra a mulher, demonstrando que as mulheres tendem a sofrer violência de pessoa conhecida.
No Brasil, a proporção de mulheres de 18 anos ou mais de idade que sofreram alguma violência ou agressão de pessoa conhecida nos 12 meses anteriores à data da entrevista foi de 3,1%, enquanto, entre os homens, a proporção foi de 1,8%. Já a proporção de pessoas que sofreram alguma agressão ou violência de pessoa desconhecida foi maior entre os homens que entre as mulheres.
Conforme aponta a pesquisa Violência doméstica e familiar contra a mulher – 2015, realizada pelo Instituto DataSenado, do Senado Federal, quase uma em cada cinco mulheres já foi vítima de algum tipo de violência doméstica.

O tipo de violência sofridas
Na pesquisa Violência doméstica e familiar contra a mulher – 2015, sexta da série histórica realizada pelo Instituto DataSenado, as agressões físicas e psicológicas foram majoritárias entre as mulheres que declararam ter sido vítima de violência – sete em cada dez mulheres sofreram agressão física;  48%, quase metade, sofreram agressão psicológica. A violência sexual ainda atinge uma em cada dez brasileiras.

A frequência da violência 
O Balanço 2015 da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, aponta que, dentre as denúncias de violência recebidas em 2015, em 3/4 dos casos, a violência é cometida diária ou semanalmente. O Balanço informa, ainda, que, dentre as mulheres atendidas em razão de violência, 3 em cada 10 sofriam violência por um período superior a 5 anos.

A reação das mulheres à violência
A pesquisa Violência doméstica e familiar contra a mulher – 2015, realizada pelo Instituto DataSenado, do Senado Federal, apontou que cerca de 2 em cada 10 mulheres agredidas não tomou qualquer atitude com relação à agressão sofrida, pelos seguintes motivos:
  • preocupação com a criação dos filhos (24%);
  • por medo de vingança por parte do agressor (21%);
  • por acreditar que aquela seria a última agressão (16%).
Além disso, verificou-se que 10% das mulheres agredidas não acreditavam que o agressor seria punido e que 7% das vítimas se sentiam envergonhadas pela agressão sofrida.

A violência letal contra as mulheres
De acordo com o Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil, enquanto, em 2003, foram registrados 3.937 homicídios de mulheres, no ano de 2013 esse número chegou a 4.762, representando um aumento de 21% na década.
O ano de 2013 apresentou uma alarmante taxa nacional de 4,8 assassinatos por 100 mil mulheres.
Esse retrato ganha ainda mais relevância, ao se levar em consideração que apenas 7 estados da Federação apresentaram, em 2013, taxa de homicídios de mulheres inferior à taxa nacional: São Paulo; Piauí; Santa Catarina; Rio Grande do Sul; Maranhão; Minas Gerais; e Rio de Janeiro.
Por outro lado, estados como Roraima, Espírito Santo, Goiás, Alagoas e Acre, apresentaram taxas de homicídios de mulheres muito superiores à taxa nacional.

A Cultura Machista como Causa

O Sistema de Indicadores de Percepção Social – SIPS, do IPEA, em edição sobre tolerância social à violência contra as mulheres traz dados surpreendentes, como, por exemplo, o fato de que mais de 6 em cada 10 pessoas concordam parcial ou totalmente com a afirmação “Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.

Além disso, mais da metade dos/as entrevistados/as concordaram parcial ou totalmente com a afirmação “Se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Saúde mental na gestação e pós-parto


 A maternidade proporciona muitas mudanças na vida da mulher, sendo a gravidez e o puerpério fases que precisam ser avaliadas com atenção especial, por envolver inúmeras transformações biológicas, físicas, sociais, psíquicas e com isso toda uma carga emocional frente a esse novo, a esse bebê, a essa nova mudança de vida que podem refletir diretamente na saúde emocional dessa mulher. 
A gravidez leva a mulher a uma readaptação dos mecanismos corporais como também a uma readaptação psicológica. O sonho de ser mãe, o significado de mãe na vida da gestante e a disponibilidade em assumir esse novo papel tomarão conta de grande parte do tempo da gestação. Os nove meses de gestação é um tempo para que ocorra uma transformação importante na vida da mulher, diante das responsabilidades que ela irá assumir perante aquele bebê. 
No puerpério ocorrem novas transformações. O nascimento do filho implica mudanças na vida de ambos os pais. O ajustamento dos pais, ao novo papel de cada um, começa imediatamente após o parto. Afinal de contas, ninguém nasce sabendo ser pai e mãe, é uma construção, que possibilita uma oportunidade de um autoconhecimento, no qual ambos os pais podem se deparar com atitudes e potenciais que não sabiam que tinham. A parentalidade é um processo maturativo, é um desenvolvimento, que permite a dois adultos responder as necessidades físicas, afetivas e psíquicas dos seus filhos, construindo os laços de aliança e filiação. Nessa construção, é necessário tempo inclusive para construção do amor materno, que também é um amor construído na relação, que precisa de investimento. 

Assim, a gravidez e o puerpério são experiências de dualidade, onde existem sentimentos de satisfação, felicidade, mas também há espaço para inseguranças, dúvidas e medos diante desse novo papel. Por estas razões, o processo psicoterapêutico é um momento de autocuidado, que facilita o autoconhecimento e possibilita levar a mulher-mãe ao equilíbrio emocional, a compreensão e conscientização do exercício da maternidade real e suas implicações. 

Por psicóloga Caroline Vasconcelos

quinta-feira, 21 de março de 2019

Bulimia Nervosa: como ocorre?


A Bulimina Nervosa é um transtorno alimentar com prevalência entre jovens mulheres de 1 a 1,5%, com tendencia a aumento da prevalência na fase adulta. É dez vezes mais prevalente em mulheres do que em homens.

Quando ocorre?
Ocorre quando há episódios recorrentes de compulsão alimentar, comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso, e auto-imagem e autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e peso corporais. Os comportamentos inapropriados devem estar presentes por, no mínimo, uma vez por semana, por 3 meses.
Um episódio de compulsão alimentar é definido como a ingestão, em um período de tempo determinado, de uma qualidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria em circunstancias semelhantes.
Um comportamento compensatório, como vômitos induzidos, uso de xaropes para induzir vômitos, uso de laxantes e diuréticos, uso de hormônios tireoidianas e metformina, também pode incluir jejum prolongado por dias ou prática excessiva de atividades físicas na tentativa de impedir o ganho de peso.
Existe um prejuízo na autoimagem, com medo de ganhar peso, desejo de perder peso, e nível alto de insatisfação com o próprio corpo.
O curso da doença está associado a diversas complicaçoes clínicas, como irregularidade menstrual, mais raras, são laceração de esôfago e dependencia de laxantes para induzir movimentos intestinais.
Portadores do transtorno tem risco maior de morrer por várias causas e inclusive por suicídio.
O tratamento deve ser multidisciplinar, com acompanhamento nutricional, psicológico e psiquiátrico, de preferência, com profissionais especialistas na área.

terça-feira, 12 de março de 2019

Fibromialgia, uma síndrome dolorosa silenciosa

Frida Kahlo apresentava fibromialgia e recentemente Lady Gaga afirmou também sofrer com a doença.
A Fibromialgia é uma síndrome dolorosa, caracterizada pela presença de pontos dolorosos no corpo, sem que sejam justificados por achados clínicos. Possui sintomas de dor muscular generalizada, rigidez, fadiga e sono não restaurador. A dor é localizada como um fenômeno psicossomático, sem que haja mediação simbólica, constituindo um enigma.  Respostas do tipo: ‘você não tem nada”, permite que a paciente procure palavras para dizer sua dor e seu desejo, mas existem aquelas que buscam dar um nome ao seu fantasma e submetem-se a intervenções, muitas vezes, desnecessárias, que visam buscar uma realidade material daquilo que não foi dito.
A fibromialgia é considerada outra forma de sofrer no feminino, na qual o sofrimento provocado pelo trauma não é idêntico à dor que o acompanha, trata-se de algo que ficou isolado dentro do próprio sujeito, um sofrimento de difícil localização, como a ansiedade, o luto e a dor de existir da melancolia.
A dor marca o limite entre ela e o Outro, entre o corpo e a psique. O limite do eu atravessado por um excesso. Para a paciente com Fibromialgia, a dor é uma sombra que a acompanha, é um recurso, uma possibilidade de manter a unidade corporal. A dor física, o sintoma, como uma formação de compromisso com a dor psíquica.
A escuta da dor crônica na situação analítica, permite a passagem da dor à construção do sofrimento, para que a dor possa mover-se transformando o gemido em palavras, trazendo para a linguagem o que foi guardado, o que não pode ser dito ou mesmo o indizível, que faz o corpo gritar de Dor!

Por Inês Benevides @inesbenevidesdecastro

sexta-feira, 8 de março de 2019

A ciência feminista

O feminismo pode estar na iminência de ser aceitável,  contudo ainda é visto com ressalvas pela ciência. O pensamento comum é que o feminismo está muito bem inserido nos estudos de gênero, portanto deve ser mantido com distância pela ciência, mesmo listados as referências políticas sobre como as mulheres, os homens e o mundo devem lidar com a distorção das evidências científicas com o que realmente acontece, é o que garantem pesquisadores da The Lancet.
Enquanto no final do século 19, as primeiras feministas lutaram pelo acesso completo à educação superior, aí médicos do sexo masculino distintos afirmavam
que as mulheres estudarem em idade reprodutiva iria ser muito difícil, já que 
o desvio de energia do complexo sistema reprodutivo feminino para o cérebro levaria a uma distorção da personagem feminina adequada, saúde pobre, infertilidade, loucura,
e até mesmo a morte. Em resposta, médicas indicaram a surpreendente capacidade das mulheres de, ao mesmo tempo,menstruarem, obterem um diploma universitário e permanecerem vivas.
E foi, é claro, o cérebro das mulheres, considerado pelos neurocientistas pequeno comparado ao masculino e inadequado para trazer grandes contribuições intelectuais para a ciência que trouxe essa bolha de consenso, que levou a 4 temas estudados na ciência feminista:
  1. O tamanho menor do cérebro feminino não garante superioridade de inteligência, combatendo os esteriótipos, inclusive de que as mulheres são mais emocionais e por isso sofrem mais de depressão e ansiedade
  2. Combater a ideia de enfermidade da menstruação e a ideia de que o corpo feminino não é saudável, colocando-o, durante muitos anos, à margem dos estudos científicos.
  3. cuidadosa atenção para reivindicações de diferenças categóricas entre os sexos, supostamente imutáveis e enraizados na biologia. Por exemplo, a questão de saber se os conceitos do “cérebro masculino” e o “cérebro feminino” devem ser mantidos está sob desafio. Os dados em animais mostram que os efeitos de sexo no cérebro, enquanto real e importante para estudar, não são nem binários nem polarizados. 
  4. Trazer a importância do ponto de vista, e, portanto, da diversidade para a ciência. O argumento da ciência feminista não é que há um caminho “feminino” único, universal, ou superior de pensar ou fazer ciência.
É que tanto a ciência e a sociedade se beneficiam quando a comunidade científica inclui perspectivas sociais e políticas que foram historicamente excluídas.
Supor que as experiências, crenças e perspectivas sociopolíticas de um cientista não têm a impacto nos temas que ele escolhe para investigar, ao lançar hipóteses que vêm à mente, é escolher ignorar o que a filosofia da ciência nos diz sobre como a ciência funciona.
"Igualdade de gênero não é questão de justiça e direitos, mas é crucial para promovermos melhora da pesquisa científica, trazendo benefício no cuidado aos pacientes. Se os caminhos da ciência, medicina e saúde global têm esperança em melhorar a vida do ser humano, eles precisam ser representativos às sociedades que servem. A luta pela igualdade/equidade de gênero é responsabilidade de todos, o que significa que o feminismo também é para todos, homens e mulheres, pesquisadores, clínicos, líderes de instituições e até revistas médicas" The Lancet

Videogame: vilão da saúde mental?

Os dois lados da moeda: o uso do videogame como recurso terapêutico. Com a ajuda da tecnologia, novas técnicas e abordagens passam a se...