quinta-feira, 31 de maio de 2018

Como é realizado um atendimento psiquiátrico?

Diagnóstico

O Diagnóstico em psiquiatria é eminentemente clínico e realizado a partir do acolhimento da queixa principal do paciente, associada a uma Entrevista Psiquiátrica pormenorizada  e um Exame do Estado Mental bem detalhado.

Com essas três ferramentas, na grande maioria dos casos, o psiquiatra experiente está apto para diagnosticar os mais diversos tipos de transtornos mentais. Importante lembrar que o diagnóstico psiquiátrico é embasado em suspeitas ou hipóteses diagnósticas, que podem se manter ou se modificar, no decorrer do acompanhamento clínico. Por isso, costumamos inferir que o diagnóstico psiquiátrico não é uma fotografia, mas uma filmagem, daí a importância do acompanhamento psiquiátrico seriado.

Durante o acompanhamento, poderemos nos munir de avaliações laboratoriais, exames de imagem, pareceres e  avaliações de outros médicos especialistas, no intuito de detalhar a investigação diagnóstica e afastar outras causas clínicas que possam estar coexistindo ou sendo as responsáveis pelo quadro psicopatológico em questão.

Tratamento com foco em prevenção primária

O conceito de prevenção primária diz respeito à capacidade de evitar o surgimento das doenças, no caso, os transtorno mentais. Para quem visa prevenir o aparecimento dos transtornos mentais, estudos indicam que um dos principais fatores de proteção é o Suporte Social em todas as áreas, como a afetiva, a familiar, bem como no ambiente escolar, acadêmico ou profissional, além do apoio de amigos. Trata-se uma grande rede de apoio de pessoas com quem se pode contar e tem significativa importância no enfrentamento das dificuldades.

Outros fatores protetores contra as doenças mentais são a prática regular de atividades físicas, manutenção de atividades de espiritualidade ou religiosidade frequentes, além de hábitos cotidianos saudáveis, como preservar uma rotina de sono adequada e um comportamento alimentar educado, priorizando pela Nutrição balanceada e consciente.

A Psicoterapia, com foco em técnicas e abordagens de eficácia cientificamente comprovadas, como a Análise do Comportamento, exercida por um profissional devidamente habilitado, também é importante fator de proteção aliado à Psiquiatria no Tratamento de Prevenção Primária dos distúrbios mentais.

Tratamento com foco em remissão e recuperação

O tratamento objetivando a remissão e a recuperação diz respeito à prevenção secundária, quando um transtorno psiquiátrico já se instalou. Esse tipo de tratamento difere significativamente, dependendo das particularidades de cada paciente, por isso deve ser individualizado. O tratamento pode ser realizado apenas com psicoterapia, em algumas situações, há a necessidade de se associar o tratamento psicofarmacológico ao suporte psicoterápico e, inúmeras vezes, faz-se necessário o apoio de rede de profissionais com atuação multidisciplinar, tais como serviço social, terapia ocupacional, fonoaudiologia, enfermagem, psicopedagogia, nutrição, dentre outros. Em casos  mais específicos, há demanda de internamento hospitalar ou de Eletroconvulsoterapia. Um psiquiatra bem preparado irá indicar o tratamento mais adequado a cada caso em questão.

Vale mencionar a importância dos dos conceitos de resposta, remissão e recuperação. A resposta diz respeito a uma melhora clínica percebida pelo paciente de menos de 50% dos sintomas, a remissão caracteriza que o paciente remitiu de mais de 50% de sua sintomatologia e, dizemos que o paciente atingiu a recuperação, quando está 100% recuperado de todo o sofrimento mental que o acometia. Tem como foco a prevenção de recaídas, essa acontece quando o paciente atinge a remissão, mas volta a mostrar-se sintomático, tendo demanda de ser reavalidado pelo psiquiatra assistente.

Reabilitação

A reabilitação ou prevenção terciária já prepara o paciente para o retorno à sua funcionalidade anterior, para que possa se sentir plenamente capaz em todas as áreas de sua vida. Diz respeito à fase de manutenção, que em psiquiatria, dura no mínimo seis meses, dependendo de cada caso e prepara o paciente para sentir-se curado, independentemente de alta do uso dos medicamentos ou se terá de manter o tratamento farmacológico e psicoterápico apenas a título de prevenção de recorrências. A Recorrência acontece quando o paciente consegue atingir a recuperação, inicia o tratamento de manutenção e, por inúmeros motivos, volta a apresentar a sintomatologia anterior, ou seja, apresenta recidiva dos sintomas, devendo, nesse momento ter reavaliação psiquiátrica pelo médico assistente, com objetivo de retomar a fase de melhora e recuperação clínica. 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O que é

O TEA é caracterizado pela alteração do neurodesenvolvimento, com déficits específicos em:

- Linguagem, com dificuldade de expressão e comunicação (dificuldade de entendimento de palavras, perguntas, brincadeiras, repetição de palavras e frases sem sentido ou significado, etc);

- Socialização, com baixo índice de interação social (pouco ou nenhum interesse em se relacionar com outras pessoas, evitação do contato visual, ausência de envolvimento emocional), isolamento social (vivendo em um universo individual e particular);

- Padrões de movimentos repetitivos e estereotipados, como bater palmas, estalar os dedos, movimentação da cabeça ou dos membros, dentre outros;

- Perfil de interesses restritos, como obsessão por um determinado assunto, como esporte, carros, números, animais, etc.)

A caracterização como espectro autista significa que a síndrome se manifesta em ampla gama de intensidade, variando desde casos bem graves, com retardo mental associado, até o autismo de alto funcionamento, no qual o paciente apresenta bom funcionamento da linguagem e da inteligência, com ilhas de capacidades cognitivas.

Não foi estabelecido um consenso sobre a origem e os causadores do TEA, contudo é sabido que fatores genéticos tem papel importante no quadro. Uma das hipóteses aceitas seria a combinação de vulnerabilidade genética e exposição precoce a fatores ambientais ainda não determinados. Há registros atuais do aumento do numero de casos na ultima década, que pode ser decorrente da mudança de critérios diagnósticos e da maior informação da população geral, associado a um aumento de fato no numero de casos.

O diagnostico do TEA é realizado baseado na observação dos sintomas característicos, entrevista com familiares e educadores envolvidos, avaliação neuropsicológica, avaliando linguagem e interação social e avaliação orgânica, determinando o grau de funcionamento e gravidade do quadro.

O tratamento do TEA é multidisciplinar, envolvendo medicação, terapia psicoeducacional, comportamental, fonoaudiológica e orientação familiar.

Compulsões Alimentares: Respondendo as 20 Maiores Dúvidas

1) O que leva uma pessoa a compulsão?
Vários fatores podem estar relacionados à compulsão alimentar, tanto biológicos e hereditários, como a Síndrome de Prader Willi e Kleine-Levin, quando não há sensação de saciedade e o paciente apresenta hiperfagia. Entretanto, a associação com fatores ambientais e comportamentais é mais significativa, quando traumas, experiências pessoais negativas, sentimentos como culpa, vergonha, insatisfação, além de sintomas ansiosos e a manutenção do ato compulsivo, por reduzir ou aliviar sensações de mal-estar.

2) Quais os tipos de compulsão?
Não há essa distinção na literatura médica, contudo alguns tipos de comportamentos compulsivos vêm sendo recentemente estudados com maior frequência e foram reconhecidos como doença, é o caso do comprar compulsivo e mais recentemente o uso compulsivo de computador e internet, além dos já conhecidos jogo patológico, compulsão alimentar e sexual.

3) Qual o tipo mais comum? A que se deve isso?
A compulsão alimentar é a mais prevalente, atinge 4% da população geral e até 6% de obesos, segundo dados da APA (Associação Americana de Psiquiatria). Ela pode estar presente em transtornos psiquiátricos alimentares como a Bulimia Nervosa e o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP).

4) Quanto à comida, qual a diferença entre comer excessivamente ao perder o controle um dia e comer compulsivamente?
O ato compulsivo isolado, sem associação com doença psiquiátrica, certamente foi algo experimentado ocasionalmente por grande parte da população, motivado por algum contexto social, funcional ou psicológico. Muitos de nós já foi a um rodízio e experimentou vários grupos de alimentos diferentes em um curto período de tempo. A compulsão alimentar se configura uma doença, com inúmeros prejuízos mais amplos, tanto sociais, como funcionais.

5) O comedor compulsivo pode ser uma pessoa que come várias vezes excessivamente apenas nos finais de semana, por exemplo? Ou no período pré-menstrual? Enfim, num período determinado, mas que ocorre com frequência? 
O comer compulsivo periódico pode ocorrer em qualquer fase da vida, podendo ser algumas vezes por mês, como no período pré-menstrual. O TCAP deve ocorrer no mínimo duas vezes por semana, em um período de no mínimo seis meses, portanto, se o indivíduo apresentar pelo menos dois episódios compulsivos, ainda que aos finais de semana por 6 meses tem o diagnostico de TCAP e indicação de tratamento.

6) Na maioria das vezes, a que se deve a compulsão por comida?
Estudos sobre a etiologia ainda são limitados, outros indicam que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para desenvolvimento da compulsão alimentar periódica e o fator hereditário parece ter alguma relação com o comer compulsivo, mais ainda, fatores psicossociais, como ameaças, abuso sexual, discriminação, além de história infantil de sobrepeso, compulsão alimentar familiar e desavenças paternas também podem ser fatores de risco importantes para o comer compulsivo.

7) Qual a relação que se tem com a comida na atualidade?
Diferentemente do que a humanidade enfrentou em períodos críticos de guerra, epidemia e pobreza, o momento atual é de abundância e facilidade de acesso e oferta de uma diversidade de alimentos a todas as classes sociais, principalmente em grandes centros urbanos.
A comida sempre esteve relacionada à satisfação e em um contexto social, dificilmente se consegue ter um controle pleno de quantidade e saciedade, tornando cada vez mais frequentes a busca de meios para se controlar o peso e os excessos diante da mesa, quando se observa que a moderação é a melhor saída para manter o bem-estar e a saúde.
Em contrapartida, passou-se a observar que havia indivíduos que apresentavam relações patológicas com a comida, chegando a ingerir cerca de cinco a sete mil calorias em curto período de tempo, e que precisariam de uma ajuda especializada para superar esse sofrimento.

8) Como é o processo para se identificar que há compulsão por comida?
O diagnóstico do Transtorno de Compulsão Alimentar Periódico se dá pela observação do próprio paciente ou de familiares se há ocorrência de episódios em que há a ingestão de grande quantidade de alimentos muito rapidamente, em período superior ao convencional, ingerido pela maioria das pessoas, acompanhado de sentimento de falta de controle, de não conseguir parar de comer, sensações de culpa, vergonha, repulsa por si mesmo.
A compulsão alimentar ocorre, pelo menos, dois dias por semana, durante seis meses e não deve estar está associada ao uso de comportamentos compensatórios, como purgação, jejuns, etc, o que exclui, por exemplo, indivíduos que “beliscam” o dia todo pequenas quantidades de alimentos.. Por fim, deve haver sofrimento relativo a esse comportamento recorrente.

9) Como pode ser tratada a compulsão por comida?
O tratamento geralmente tem por base a reeducação alimentar, com base em programas com apoio endocrinológico, nutricional, psicológico e em alguns casos, psiquiátrico, quando se faz necessário o uso de medicamentos para o tratamento de sintomas compulsivos graves, ou comorbidades psiquiátricas, como o Transtorno Depressivo Maior e Transtornos de Ansiedade.

10) O tratamento serve para as outras formas de compulsão?
Não. Geralmente faz-se necessária a avaliação de cada caso isoladamente. A grande maioria dos pacientes terá indicação apenas de tratamento psicoterápico. Entretanto, quando há a observação de alguma comorbidade psiquiátrica, como o Transtorno Depressivo Maior e os Transtornos de Ansiedade faz-se necessário o tratamento medicamentoso, com psicofármacos.

11) Qual a importância dos grupos de apoio como os Comedores Compulsivos Anônimos?
Esses grupos funcionam como uma poderosa terapia de grupo, quando grupos de pacientes que apresentam sofrimentos físicos e psíquicos semelhantes se reúnem, sempre com a mediação de um profissional da saúde mental, com programas e técnicas de reabilitação de Terapia cognitivo-comportamental (os Doze Passos). É uma rede mundial de apoio e tratamento psicoterápico por meio de técnicas de prevenção de recaída, também utilizadas nos outros grupos semelhantes, como Narcóticos Anônimos e Alcoólicos Anônimos, dentre tantos outros.

12) Caso alguém queira ajudar uma pessoa próxima que está no quadro de comedor compulsivo, como deve proceder?
O ideal seria indicar primeiro uma avaliação médica, que pode ser com um endocrinologista ou um psiquiatra, e se seguiria com apoio psicoterápico. O apoio de familiares e pessoas próximas é fundamental para o sucesso do tratamento.

13) Há um novo transtorno alimentar chamado de gordorexia. Como é definido?
A gordorexia se caracteriza pela alteração na imagem corporal, quando o obeso, não se percebe acima do peso, e se vê com corpo de forma física adequada. Essa alteração da imagem corporal faz parte do quadro da Anorexia Nervosa, quando o paciente não se vê magro ou com um corpo adequado, sempre se percebendo maior, mais gordo do que realmente é, essa alteração é maior e mais grave quanto menor ou maior for o peso do paciente.

14) A comida pode ser considerada um vício neste caso do comedor compulsivo?
A alimentação está ligada ao mesmo sistema de recompensas cerebral relacionado à  dependência de substâncias e tem-se proposto que se trate o alimento do comedor compulsivo com um vício. Entretanto, não se pode evitar esse vício, pois o alimento é vital, portanto a abordagem radical e restritiva de um paciente dependente de substâncias é distinta à de um comedor compulsivo, que deve passar a se alimentar de forma moderada.

15) No entanto, diferente do vício com o álcool, a pessoa não pode evitar a primeira garfada, porque ela tem que se alimentar. Não é isso? Como proceder nestes casos?
Exatamente, a mesma recomendação não pode ser utilizada para os dois tipos de pacientes, pois a orientação de evitar sempre o primeiro gole dada para os alcoólicos não pode ser seguida pelos comedores compulsivos, pois não há como evitar a primeira refeição. Como já dito, a abordagem nesses casos é a reeducação alimentar e o controle do ato compulsivo.

16) Às vezes, o vício é com algum grupo alimentar (carboidrato, doce, etc) que é o alvo da compulsão? Ou não se trata dessa forma?
Alguns estudiosos sugerem que poderia haver dependência de carboidratos ou de açúcar, de acordo com a própria queixa do paciente, e acabam tendendo a restringir tal grupo alimentar. O tratamento ideal não deve ser restritivo e nem proibitivo, pois o paciente deve aprender a apreciar todos os tipos de alimentos de forma saudável.

17) É verdade que o comer compulsivo não está entre os distúrbios categorizados na classificação internacional das doenças segundo a Organização Mundial da Saúde?
Sim. Por quê? Ele só foi regulamentado e reconhecido como doença em 1994, quando a essa classificação já havia sido feita, em 1992. Ele certamente entrará no CID-11.

18) Mas a Associação Psiquiatríca Americana já a identifica como patologia?
Sim, no caso do TCAP, ele está presente no DSM-V. E o Brasil, como a classifica? O Brasil usa o CID-10 para classificar as doenças e o TCAP está situado nos Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação (F50.9)

19) A compulsão alimentar é identificada com mais frequência nos adultos?
Sim. Em que faixa etária? Há dados que sugerem que a prevalência é maior na década dos 20 e que diminui após os 25 anos.

20) E nas crianças, a compulsão alimentar pode ser provocada na infância? Por meio dos pais?
O comer compulsivo ainda está sendo identificado apenas em adultos na segunda ou terceira década de vida. Atualmente, estão começando a surgir estudos sobre o comportamento compulsivo alimentar em crianças, já que, na prática clínica, pode-se observar que existem diversas com esse tipo de disfunção alimentar, e a maioria delas tem relação direta com o comportamento e a educação alimentar dos próprios pais.

Transtorno Bipolar. Saiba o que fazer.

O que é:

O transtorno bipolar (TB) caracteriza-se por alterações de humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia (também denominados mania).
Crises bipolares são diferentes das mudanças de humor da pessoa “de lua”, que passa uma manhã agitada ou se irrita facilmente. Tanto os episódios de depressão quanto os de mania duram semanas ou meses e representam uma mudança importante no jeito de a pessoa funcionar.  É comum, durante um episódio de mania, que a pessoa se sinta mais poderosa, tenha muita energia, necessite de menos horas de sono, perca o senso crítico e tenha comportamentos extravagantes e impulsivos, como comprar demais ou consumir álcool e drogas.

Sintomas

Na depressão
  • Alteração do apetite, em geral
  • Mau humor
  • Alteração do sono, em geral, hipersonia
  • Diminuição da produtividade
  • Pessimismo
  • Tristeza
  • Pensamentos suicidas

Na euforia (mania)

  • Agitação
  • Agressividade
  • Aumento de libido
  • Aceleração do pensamento
  • Autoconfiança elevada e ideias de grandeza
  • Comportamentos compulsivos
  • Diminuição do sono

Diagnóstico

A semelhança das manifestações clínicas do TB em comparação com outros transtornos mentais dificulta o diagnóstico precoce da doença, que pode levar até dez anos.
Em geral, o transtorno surge até os 25 anos, sendo comum que os primeiros sintomas se manifestam ainda na infância e na adolescência. Os primeiros episódios de TB surgem como crises de depressão (em 60% dos casos), e somente quando há um episódio de mania é que se faz o diagnóstico.

Tipos de transtorno bipolar
  • Tipo I – ocorre em aproximadamente 1% da população e caracteriza-se pela presença de episódios de depressão e mania.
  • Tipo II – caracteriza-se por alternância de depressão e episódios mais leves de euforia (hipomania)

Como é feito o diagnóstico?

Os sintomas de depressão e de mania devem estar presentes durante um período de, pelo menos, duas semanas e devem representar uma alteração para pior na vida do indivíduo. Os sintomas devem causar sofrimento ou prejuízo em áreas importantes da vida (relações afetivas, profissionais, etc.). É necessário fazer uma detalhada investigação clínica para descartar a possibilidade de a depressão ser causada por outras doenças, medicações ou por abuso de álcool ou de drogas.
Quando a doença se manifesta como mania, podem ocorrer sintomas psicóticos, ou seja, ideias irreais de grandeza e megalomania, alucinações auditivas e discurso incoerente. Nesses casos, é necessário diferenciá-los dos quadros de esquizofrenia.

Qual é o tratamento?

O tratamento visa à melhora do episódio agudo de mania ou depressão e à prevenção de novas recaídas da doença. Inclui medicamentos, psicoterapia e mudança de hábito de vida. Entre os medicamentos, o uso de estabilizadores de humor costuma ser a regra e inclui lítio e medicações anticonvulsivantes. As medicações antipsicóticas tem um papel importante nos quadros de mania e são muito utilizadas para prevenção de recaída. O uso de antidepressivos deve ser reservado para casos mais graves, pois pode induzir viradas no quadro de depressão para o quadro de mania.
O cultivo de hábitos de vida saudáveis é fundamental para pessoas com TB e inclui um cuidado especial com sono, alimentação, atividade física e restrição de uso de álcool e de drogas.

Esquizofrenia: o que é e como tratar

O que é?

Esquizofrenia é uma doença em que a pessoa, em alguns momentos, apresenta sintomas psicóticos, e, em outros, de melhora. A psicose é definida por alterações dos pensamentos (delírios) e da percepção (alucinações) e momentos em que os sintomas melhoram. Os delírios são crenças falsas que tomam contada vida da pessoa e afetam o entendimento da realidade. Em geral, as alucinações são auditivas, as pessoas ouvem vozes ou barulho que não existem de fato e atrapalham a vida. É comum que a pessoa se sinta perseguida ou vigiada e que essas vivências tenham relações com as alucinações. Esse quadro caracteriza um episódio psicótico agudo (*surto psicótico*), que, quando tratado adequadamente, melhora.

Causas da Esquizofrenia


A esquizofrenia é uma doença causada por alterações do funcionamento cerebral e que é determinada por fatores genéticos (genes que aumentam o risco de desenvolver a doença) e por fatores ambientais, tais como: uso de drogas e grandes traumas emocionais.

Como é feito o diagnóstico


O diagnóstico é clínico e deve ser feito por um psiquiatra ao longo de um período de acompanhamento. A forma de apresentação varia de paciente para paciente, com múltiplas combinações de sintomas envolvendo disfunções emocionais, comportamentais e cognitivas, tais como: delírios, alucinações, assim como conversa desconexa, catatonia, isolamentos social e diminuição da expressão afetiva.
O primeiro surto psicótico costuma acontecer entre 16 e 25 anos e é precedido por vários sinais que podem ser identificados por familiares e pessoas próximas, como, por exemplo: isolamento, mudança de comportamento e de percepção, estranhamento. O diagnóstico precoce é fundamental para a eficácia do tratamento e a minimização do sofrimento da doente e de todos os envolvidos.

Qual é o tratamento


No tratamento da esquizofrenia, é fundamental o uso de medicamentos antipsicóticos combinados com terapias psicossociais. O foco do tratamento é a remissão dos sintomas psicóticos e a prevenção de recaídas. As medicações antipsicóticas são fundamentais, tanto para episódios psicóticos agudos quanto pra prevenir novos episódios agudos, evitando internações.
Devem ser combinados com:
  • Psicoterapia;
  • Terapia ocupacional;
  • Grupos de convivência de pacientes e familiares;
  • Terapia familiar
Mesmo quando não há remissão de sintomas na fase entre as crises, o tratamento contínuo multidisciplinar é o caminho mais seguro em direção a uma vida com mais qualidade para o paciente e para seus familiares.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O que é?

O TOC é uma doença que afeta pessoas de todas as idades, e sua principal característica é o aprisionamento do indivíduo em um ciclo de obsessões e compulsões, daí o nome do transtorno. 

Mas o que são obsessões?

As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos indesejados, intrusivos, que provocam sentimentos intensamente angustiantes. Compulsões são comportamentos que um indivíduo se envolve em tentar se livrar das obsessões e/ou diminuir sua angústia. A maioria das pessoas tem pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos em algum momento de suas vidas, mas isso não significa que todos nós temos “algum TOC”. O diagnóstico do TOC ocorre quando há um ciclo de obsessões e compulsões extremos, que consomem grande parte do tempo, e se tornam obstáculos para a realização de atividades importantes.


Quais são as obsessões e compulsões mais comuns no TOC?


Existem muitos tipos de obsessões e compulsões. As obsessões mais comuns incluem medos de contaminação ou germes, de estar causando danos, cometendo erros (como deixar a porta destrancada), causando desastres (como um incêndio por esquecer o ferro de passar ligado), pensamentos violentos indesejados (como de machucar um ente querido), pensamentos de blasfêmia, pensamentos sexuais, preocupações com simetria e exatidão, e pensamentos de que algo está terrivelmente errado com o seu corpo. Um tema geral é que as obsessões envolvem situações em que há algum grau de incerteza (“e se ‘X’ acontecer eu não fiz o suficiente para evitar isso?”). Os rituais compulsivos são quase sempre sobre tentar “garantir” que nada saia do controle. Por exemplo, lavando para remover germes, rezando para conter pensamentos de blasfêmia, verificando se as portas estão fechadas ou as pessoas estão bem, colocando as coisas em ordem (arranjar), repetindo outros comportamentos para se livrar de um pensamento (desligando uma luz até que um pensamento ruim desapareça). Também são comuns rituais puramente mentais.

Como é o tratamento do TOC?


O paciente com TOC é tratado através de remédios chamados tradicionalmente de antidepressivos. Em geral, as doses de tratamento do TOC são maiores do que as utilizadas para a depressão. Isso não significa que o TOC é uma doença mais grave, apenas indica uma característica do transtorno. Algumas vezes, o médico também pode optar por associar medicações ou trocar os medicamentos, buscando o que chamamos de remissão (o desaparecimento completo dos sintomas). Muitas vezes, o médico indicará psicoterapia associada ao tratamento medicamentoso. Ela tem como principal objetivo ajudar o paciente a não fazer os rituais que aliviam as obsessões, bem como a lidar melhor com o TOC e seus sintomas.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O que é ansiedade?

Ansiedade é um termo geral para abarcar situações em que há nervosismo, medo, apreensão e preocupação. A maioria das pessoas experimenta um estado geral de preocupação ou medo antes de enfrentar algo desafiador, como um teste, um exame ou uma entrevista. Esses sentimentos são facilmente justificados e considerados normais. A ansiedade é um considerada um problema quando os sintomas interferem na capacidade de uma pessoa dormir ou em sua forma de agir. De um modo geral, a ansiedade ocorre quando uma reação é desproporcional com o que normalmente pode ser esperado em uma situação.


O que é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)?

O TAG é uma doença crônica caracterizada por ansiedade excessiva e duradoura e preocupação com eventos, objetos e situações inespecíficas da vida.
Os portadores de TAG sentem, de forma persistente, preocupação e medo com questões de saúde, dinheiro, família, trabalho ou escola, mas tem problemas para identificar especificamente o que gera o medo e também de controlar as preocupações. O medo geralmente não é realista ou é claramente desproporcional ao que seria esperado na situação vivenciada. Os portadores de TAG estão sempre com a expectativa de que ocorra uma falha, um problema ou até um desastre, e estas preocupações ocorrem em uma intensidade suficiente para interferir nas funções diárias, como trabalho, escola, atividades sociais e relacionamentos.


Como as pessoas com TAG se comportam no seu dia a dia?

Muitos portadores de TAG apresentam traços de perfeccionismo. Por isso, podem despender um tempo muito grande em uma tarefa relativamente simples, em uma tentativa de certificar-se de que eles a tenham concluído perfeitamente.

Além disso, pessoas com TAG tendem a apresentar intolerância à incerteza, ou seja, sentem-se desconfortáveis quando não estão 100% seguras de si mesmas, dos outros, de suas ações e decisões, ou de seu futuro. Devido a isso, elas costumam se envolver em comportamentos cansativos e demorados projetados, para torná-los mais seguros, como pedir a opinião de outras pessoas repetidamente, checar tarefas feitas, criar listas intermináveis, procrastinar tarefas ou recusar-se a delegar qualquer coisa para os outros.


Como é o tratamento do TAG?

Vários medicamentos são aprovados para uso do TAG, que podem ser usados isoladamente ou em combinação para combater os sintomas, dar conforto ao paciente e garantir um nível ótimo de funcionalidade. A principal classe de medicações são os antidepressivos. Estas medicações não só reduzem os sintomas como revertem as alterações em regiões cerebrais responsáveis pela ansiedade. A maioria dos medicamentos não tem um efeito imediato e você pode necessitar de ajuste de dose, que serão feitos pelo seu médico. Quando há dificuldades de sono ou sintomas graves, o médico pode optar por prescrever, também, uma outra medicação específica para eles até a melhora global do quadro.

A psicoterapia no TAG é um processo colaborativo, onde o terapeuta e o paciente trabalham juntos para identificar preocupações específicas e desenvolver habilidades e técnicas concretas para lidar com a ansiedade.

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