terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Cafeína faz mal?

A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo. Cerca de 80% da população mundial consome café diariamente. É amplamente consumida por indivíduos de todas as idades, estando presente no café, os refrigerantes, chocolates e alguns chás, como chá verde ou chá preto, além de bebidas energéticas e e preparados termogênicos ou chamados “pré-treino”, associados à taurina.
Pertence à classe dos estimulantes do Sistema nervoso Central (SNC), com propriedade de aumentar a atividade tanto do SNC, quanto no Sistema Nervoso Autonômico (SNA).
Há anos se discute se ela tem efeitos positivos à saúde ou se tem impacto adverso sobre ela.


O consumo excessivo de cafeína pode causar consequências negativas para a saúde, como agitação psicomotora, insônia, cefaleia, queixas gastrintestinais. A cafeína e seus metabólicos passam livremente pela placenta e atingem o feto. Por essa razão, gestantes devem limitar sua ingestão. Crianças e adolescentes também devem limitar o consumo diário de cafeína. Fumantes, em geral, consomem mais cafeína que não fumantes, da mesma forma que pessoas com doerás mentais crônicas tendem a consumir mais a substancia do que a população geral.



Nos últimos anos, o uso das chamadas bebidas energéticas (contendo cafeína e taurina, outra substancia estimulante) vem tendo maior aceitação, sobretudo no público jovem. E apesar de, no rótulo, a bebida advertir sobre o risco do uso concomitante com o álcool, tal prática é observada com frequência , em especial com whisky e vodka, no intuito de aumentar os efeitos expiatórios e diminuir o efeito depressor no SNC.  O consumo de bebidas destiladas aumentou entre pessoas que não bebiam, devido a melhora do sabor destas quando misturadas às bebidas energéticas. São bebidas bastante populares por suposta capacidade de combater a sonolência, aumentar a energia, manter a vigilância e reduzir sintomas de ressaca.



No entanto, a literatura recente sugere que essa combinação conduz os usuários a se sentirem menos intoxicados pelo álcool, diminuindo a percepção da quantidade de consumo.

Acredita-se que a quantidade de acidentes e morte se deva ao fato de essas bebidas reduzirem a diminuição da sensação de intoxicação alcoólica.
A cafeína age no SNC bloqueando os receptores de adenosina, diminuindo, assim, a ação sedativa desta. Também ativa vários outros neutotransmissorevs, em particular, a dopamina, reduzindo a sensação de fadiga, sonolência e cansaço. Apresenta ação vasodilatadora e diurética. Tal ação é amplamente utilizada pela indústria farmacêutica, na formulação de medicamentos para combate a enxaqueca e cefaleia.


A intoxicação produz ansiedade, insônia, nervosismo, tremores, agitação, taquicardia e alterações gastrointestinais.

A síndrome de abstinência da cafeína vem sendo descrita na literatura há mais de um século. Surge depois de 12 a 24horas da cessação do consumo. A cefaleia é o sintoma mais descrito e, em cerca de 50% dos casos,  é referida como de grave intensidade. Os sintomas podem incluir humor disfórico, aumenta da sensação de fadiga, dificuldade de concentração, dores musculares, piora do desempenho cognitivo, tremores, náuseas e vômitos.


A cafeína não parece ser prejudicial, na forma de café, quando são consumidas menos de duas xícaras pequenas de café ao dia, não levando à dependência, em longo prazo, mantendo doses moderadas, melhora a função cognitiva e previne AVCs.

Pessoas que manifestaram piora de patologias prévias com esse consumo ou que tiveram redução da efetividade medicamentosa no tratamento destas também são estimuladas a cessar a ingestão de cafeína.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Dependência de nicotina

O tabagismo é considerado uma pandemia, sendo a maior causa de morte evitável do mundo. Mesmo com o avanço no conhecimento em relação aos malefícios do fumo, ainda em 2015, mais de 1,1 bilhão de pessoas fumam no mundo, sendo a prevalência muito maior em homens do que em mulheres.

A consequência do consumo dos produtos do tabaco é tão grave, que o número de mortes por doenças relacionadas ao tabaco ultrapassa 5 milhões por ano desde 1990.

Para o diagnóstico são necessários três ou mais características no ultimo ano, o que já configura dependência:

- forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substancia.
- dificuldade em controlar o comportamento de consumir o cigarro em termos de início, término e quantidade
- estado de abstinência fisiológico quando o uso da substancia cessou ou foi reduzido.
- tolerância, ou seja, o aumento das doses da substancia é demandado para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas
- abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor de uso da substância, com aumento do tempo necessário para obter a substancia ou para se recuperar de seus efeitos
- persistência do uso, a despeito da evidencia clara de consequências manifestamente nocivas.

O tabagismo é uma doença complexa e multifatorial que envolve diversos aspectos e o seu tratamento deve seguir a mesma linha.

Ajudar alguém a parar de fumar é a medida mais importante para a melhora da saúde do paciente. O tabagismo acarreta, em média, perda de 10 anos de vida e deixar de fumar nas idades de 30, 40, 50 e 60 anos reduz a perda de anos de vida em 10,9, 6 ou 3 anos de vida respectivamente. Ou seja, em qualquer idade, é importante deixar o cigarro e quanto mais cedo, melhor.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Toda esquina, uma farmácia


A grande quantidade de farmácias abrindo em nossa cidade traz a reflexão de quanto nós brasileiros nos automedicamos.


De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas, cerca de 80 milhões de brasileiros são adeptos da automedicação, número que representa 40% da população.

Os analgésicos são medicamentos capazes de diminuir ou bloquear a dor. Seu uso abusivo pode gerar efeitos colaterais, como hipertensão, gastrite e hepatite, além da dependência psicológica.
São medicamentos usados em padrão de abuso principalmente em situações de dor de cabeça ou tensões musculares, e eles são capazes de produzir efeitos rebote, já que quanto mais se utiliza, mais dor pode ter.

Segundo estudos publicados no British Medical Journal, basta ingerir o analgésico durante 15 dias seguidos para levar ao efeito de dependência química e tolerância, quando necessita de cada vez mais doses aumentadas para aliviar a dor.

Outros medicamentos bastantes utilizados são os descongestionantes nasais, utilizados em qualquer época do ano.

Muitos desconhecem que o uso do descongestionante nasal deve ser feito por período curto, pois o uso continuado pode levar a um efeito rebote, causando dependência química, já que a pessoa só consegue respirar após o uso do descongestionante, que é um potente vasoconstritor, podendo levar a elevação da pressão arterial e aumento do ritmo cardíaco. Além desses problemas, pode surgir a dependência psicológica por conta do uso patológico do medicamento, você passa a acreditar que você precisa daquela substância para sobreviver e pode enfrentar sintomas graves de ansiedade quando está em situação com dificuldade de acesso ao medicamento.

Pouca gente imagina, mas os medicamentos são o principal agente causador de intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando, desde 1994, o primeiro lugar nas estatísticas do Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas - SINITOX. As crianças menores de 5 anos representam cerca de 35% destes casos de intoxicação.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Maconha: como ela age no corpo


O corpo sob efeito

A polêmica em torno da Cannabis sativa se deve a seus efeitos. Foi em função deles que ela se tornou uma erva sagrada e teve seu uso medicinal reconhecido há milhares de anos. Porém, foi por eles que também foi rotulada como a “erva do diabo” e proibida em diversos países. Mas, afinal, como age a maconha no corpo humano? Antes de tudo, é preciso lembrar que já foram identificados mais de 500 componentes nas várias espécies da planta. Assim, nem tudo sobre a erva está totalmente explicado e novos estudos podem identificar outros efeitos.

Por todo o organismo

A maconha também pode gerar outros efeitos comportamentais e no corpo de quem a consome.

Confira alguns exemplos:

- Em certos casos pode ocorrer a perda de parte da audição;
- Devido ao seu consumo, é possível que apareçam crises de tosse;
- Alguns neurônios responsáveis pela satisfação alteram seu comportamento e passam a estimular uma maior ingestão de alimentos. Disso vem a famosa “larica”;
- Longos períodos sem consumir a erva podem dar origem a quadros de irritabilidade e insônia, além de crises de ansiedade e pânico;
- Por outro lado, também é capaz de contribuir nos tratamentos desses sintomas, amenizando suas reações.

Pulmão

Ao ser inalada, a fumaça da maconha leva substâncias tóxicas aos pulmões, além de causar irritação na traqueia e dilatação dos brônquios. O uso contínuo tende a causar danos ao órgão, como bronquite crônica e comprometimento da função respiratória. Estudos indicam que usuários que fumam maconha têm mais chance de desenvolver câncer no pulmão, risco ampliado caso também sejam tabagistas.

Intestino

Há uma grande concentração de receptores canabinoides no órgão, que ao serem acionados pelo THC, retardam a sensação de saciedade, mais um motivo para que a famosa “larica” se manifeste. Não há qualquer evidência científica de que a erva possa “soltar” ou “prender” o intestino.

Olhos

A maconha provoca relaxamento muscular e vasodilatação, inclusive na região dos olhos. Com isso, os vasos sanguíneos do globo ocular acabam ficando mais espessos e visíveis, deixando os olhos avermelhados. As glândulas lacrimais, ao contrário, sofrem constrição, reduzindo a lubrificação e causando irritação.

Boca

O THC provoca constrição também das glândulas salivares, o que leva o usuário a ter uma sensação de secura na boca. As papilas gustativas, que ficam na língua, também são afetadas, apurando o paladar principalmente em relação a sabores adocicados.

Coração

A maconha aumenta a pressão arterial, o que altera o ritmo dos batimentos cardíacos. Na fase mais aguda de seus efeitos, o coração pode bater até 50% mais rápido. Em pessoas que já possuem um histórico de problemas cardiovasculares, tais efeitos tendem a ser danosos.

Órgãos sexuais

Alguns estudos apontam uma diminuição de até 50% dos níveis de testosterona e diminuição da produção de esperma em usuários crônicos. Em mulheres, foram observadas alterações no ciclo menstrual. No entanto, ainda não existem estudos conclusivos que provem danos ou benefícios da Cannabis em relação à atividade sexual e à reprodução.

Ação no cérebro

Devido à complexidade do cérebro a maconha atua de forma diferente em cada área cerebral:


No córtex frontal e no hipocampo afeta a memória de curto prazo momentaneamente, isto é, o efeito é notado apenas durante o consumo. Enquanto sob o efeito da substância, observa-se uma redução na capacidade de raciocínio lógico.
No córtex pré-frontal a capacidade de concentração é prejudicada pelos canabinoides que atuam nessa região, é mais difícil tomar decisões sob efeito dessas substâncias. Por outro lado, há aumento de flexibilidade cognitiva.
O efeito no Núcleo Accumbes proporciona uma ampla sensação de prazer e relaxamento, por isso, frequentemente observa-se os usuários rindo enquanto consomem. O uso constante e em altas doses pode dar origem a um quadro de abuso ou dependência.
O cerebelo e gânglios basais são áreas com diversos receptores responsáveis pela capacidade motora. Devido ao relaxamento intenso, pode haver perda parcial de controle de movimento e equilibro.

Dependência de jogos eletrônicos


Muitos pais de adolescentes ficam preocupados com o tempo excessivo de seus filhos em frente ao computador e se isso seria um hábito prejudicial no futuro.


As dependência de jogos eletrônicos parece estar mais associada a comportamentos suicidas comparado ao uso saudável, de acordo com uma meta-análise recém publicada no prestigiado Journal of Clinical Psychiatry.

Vários estudos sugeriram que o vício em jogos eletrônicos está associado a taxas mais altas de irritabilidade, insônia, isolamento social e comportamentos suicidas, mas se esta associação é impulsionada por outros fatores, como depressão, ainda não está claro.
Os autores descobriram que as taxas de prevalência de ideação suicida, planejamento e tentativas foram todas significativamente maiores nos participantes do estudo com dependência de jogos eletrônicos do que nos controles (cerca de 5 vezes maior média). Quando os autores utilizaram apenas dados de estudos que ajustaram demografia e depressão, eles descobriram que as taxas de prevaleciam altas.
Com essas informações em mãos o que os pais podem fazer na  prática? Limitar o tempo de uso do computador ou celular de crianças e adolescentes com monitorização e controle constantes dos conteúdos acessados. Muitos acham que tal atitude é transgredir o direito de liberdade do filho, mas a verdade é que essas crianças não podem permanecer expostas a situações de risco e desconhecidas, sem nenhuma precaução e cuidado. Alguns sinais de alerta são:
Comece a pensar duas vezes, caso se encaixe nos itens abaixo:
• Gasta as horas de sono para ficar no computador
• Sempre fica mais tempo conectado do que pretendia
• Perdeu amigos ou recebe queixas de familiares sobre o tempo que passa conectado
• Prejuízo no desempenho ou na produtividade no trabalho devido aos jogos
• Fica irritado quando alguém atrapalha enquanto está jogando
• Tenta reduzir a quantidade de tempo conectado e não consegue
• Fica deprimido e nervoso quando não está jogando e isso desaparece quando volta a estar ligado.


Hoje em dia reconhecemos o Transtorno De Dependência à Internet e o Vício Eletrônico, que são transtornos psiquiátricos com a prevalência crescente. 

Por outro lado, esses aparelhos eletrônicos emitem um espectro de luz azul, que inibe a liberação de melatonina, que é um hormônio importante na indução do sono. 
Não há definição precisa sobre um limite seguro de horas para a utilização diária do computador. Alguns autores descrevem que o uso acima de duas horas por dia após o horário escolar pode ter impacto no sono de adolescentes e é recomendável que se evite o uso de computador, tabletes, celulares e outros aparelhos duas horas antes de dormir.


Outra alternativa que diminui o risco para o prejuízo do sono é o uso de filtros de luz azul nas telas ou diretamente no aparelho. Nesta situação, é minimizado o impacto da iluminação da tela na liberação da melatonina.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Dependência de cocaína

Depois do cannabis, a cocaína é a substância ilegal mais consumido em nível mundial. Estima-se que entre 1 e 3% das pessoas no mundo desenvolvido tenham experimentado a cocaína em algum momento da sua vida e é responsável direta por milhares de mortes a cada ano.

Essa euforia inicial em relação ao uso da cocaína provocou uma epidemia no uso nos Estados Unidos no início do século XX, levando a sua proibição em 1914, como uma forma de controle ao uso desenfreado. Essa medida foi adotada pela maioria dos países ocidentais no início do século XX, sendo proibida no Brasil em 1921, tendo seu uso diminuído consideravelmente nesse período, retornando ao foco somente no fim da década de 1970.

A epidemia que se iniciou no fim da década de 1970 atingiu seu pico em meados de 1980. Em um primeiro momento, os usuários tinham um perfil elitizado, e a cocaína era uma droga de glamour, associado aos ambientes das grandes cidades ocidentais. Esse perfil foi gradativamente mudando, à medida que a produção da droga aumentava em grande quantidade pelos cartéis de traficantes sul-americanos, atingindo todas as camadas sociais e propiciando o aparecimento de formas mais baratas da droga, como o crack.
O uso mundial de cocaína é estimado em 18,2 milhões de pessoas – 0,4% da população global entre 15 e 64 anos.

Acredita-se que os efeitos psicológicos positivos da cocaína e seu potencial de abuso se devam a sua ação no sistema dopaminérgico, em específico no circuito de recompensa dopaminérgico na via mesocorticolímbica. A dependência de cocaína tem sido definida como uma doença do sistema de recompensa cerebral. Apesar de sua ação no sistema dopaminérgico ser mais importante, a cocaína também inibe transportadores de outros neurotransmissores, como norepinefrina e serotonina. Também tem múltiplas ações periféricas, sendo um potente anestésico local, com propriedades vasoconstritoras importantes.
O sucesso do tratamento da dependência de drogas depende de uma investigação ampla e da pesquisa da relação do indivíduo com a droga. A motivação para interromper o uso é outro aspecto importante na avaliação inicial, pois dela depende a construção do vínculo para início do tratamento ou o encaminhamento para serviço especializado. Diferentemente do que se acreditava, a motivação não é inflexível, podendo ser mobilizada por meio de algumas técnicas, como a entrevista motivacional, e, com isso, melhorar a adesão do indivíduo ao tratamento.

Dicas de como melhorar a saúde mental: Parte VIII

Faça terapia!

Pesquisadores da Finlândia, apresentaram importantes resultados acerca do uso de antidepressivos. Os dados apontam melhoras de longa duração quando a medicação é aliada ao tratamento psicológico.

O motivo disso é que o medicamento atua em questões que envolvem a plasticidade cerebral e isso facilita o trabalho do profissional de psicologia, capacitado para elaborar e aplicar uma intervenção em comportamentos que estejam acontecendo em déficit ou excesso.

Você sabia que é possível agir da mesma forma há anos e não saber explicar a motivação / causa / operações que mantém essa ação?

O processo terapêutico é um momento de autocuidado e que facilita esse trajeto de autoconhecimento. Através dele podemos compreender nossas ações, repensar nossas relações e desenvolver ferramentas de enfrentamento / superação. Bora fazer terapia!?

Texto: Camille Borges

Videogame: vilão da saúde mental?

Os dois lados da moeda: o uso do videogame como recurso terapêutico. Com a ajuda da tecnologia, novas técnicas e abordagens passam a se...