quinta-feira, 30 de maio de 2019

Mudança de carreira

Você se formou, fez cursos, tem uma experiência profissional considerável. Agora já sabe todos os passos de sua carreira, certo? Definitivamente não! O mercado tem mostrado que profissionais terão que se adaptar cada vez mais rápido para mudar de carreira.  E essa é uma realidade presente em praticamente todas as áreas do mercado de trabalho.
Essa prática tem diversas explicações: as áreas profissionais estão convergindo cada vez mais para entregar melhores resultados, algumas áreas estão em alta quanto ao número de oportunidades aumentando interesse de profissionais, e até mesmo pela consciência de que o melhor trabalho é o que realiza um profissional. Dessa forma, a mudança de carreira se torna um movimento cada vez mais natural, mas para se adaptar a isso é preciso preparação. Você sabe como?
Conheça-se! O autoconhecimento é uma competência fundamental para uma mudança de carreira. Isso significa que você deve se conhecer e entender quais são os seus pontos fortes, fracos e a desenvolver e com isso entender as chances de sucesso em sua nova empreitada. Seja capaz de se autoavaliar, isso é fundamental!
Ao planejar uma mudança de carreira, o caminho com mais chances de sucesso é entender o mercado, a sua situação profissional e quais as possibilidades que você tem para atuar em outra área. Se você está empregado e pretende continuar na sua empresa, pode entender em que outras áreas pode contribuir dentro da organização. Se pretende mudar de emprego, o caminho é pesquisar e entender o que é preciso para mudar.
Novos caminhos exigem novos conhecimentos, por isso fazer cursos e mergulhar na sua nova área será determinante para o sucesso da sua mudança de carreira. Na internet é possível consultar Guias de Profissões e Salários que já indicam quais os cursos e conhecimentos necessários para atuar nas mais diversas áreas profissionais.
Talvez você tenha que dar alguns passos para trás para mudar de carreira, por isso mudanças menos bruscas, para áreas que você já tem algum conhecimento e/ou experiência podem ser melhores, afinal você não precisará começar do zero.
O que você deseja para a sua carreira daqui 5, 10 anos? Quais aprendizados quer adquirir daqui para a frente? Se você vislumbra mudar de carreira, precisa entender e ter de forma clara os seus objetivos desenhados. A mudança de carreira não deve ser prejudicial se for bem estruturada e tiver objetivos, portanto um bom plano de carreira poderá ajudar a explicar para os seus futuros empregadores o porquê de sua decisão de mudança.
Por Gisele Serpa, psiquiatra

A Terapia Ocupacional na Saúde do Trabalhador

A TERAPIA OCUPACIONAL NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Atualmente, é dentro do ambiente de trabalho que passamos a maior parte do dia e grande parte de nossa vida, desde muito jovens devido ao valor atribuído ao mesmo pela sociedade, e, desta forma, a satisfação do individuo passa a depender da sua capacidade de desempenho e habilidades no seu trabalho. Em contrapartida, a qualidade de vida no trabalho vem sendo uma busca constante desse “Ser” nesse ambiente, que também pode ser causa primordial de adoecimento. Podendo ser fonte de algumas doenças ocupacionais. 
O Terapeuta Ocupacional na saúde do trabalhador surge com um profissional interveniente realizando uma atuação integrada com outros profissionais da saúde, estando capacitado a compreender as relações saúde-sociedade e, ainda, as relações de exclusão e/ou inclusão social, objetivando a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e promovendo a participação dos mesmos em atividades selecionadas visando à promoção a saúde biopsicossocial. 
A ergonomia é uma ciência, onde o terapeuta ocupacional esta inserido, visando desenvolver técnicas de adaptação de elementos do ambiente de trabalho ao ser humano, com enfoque no seu bem-estar, aumentando assim sua produtividade. O terapeuta Ocupacional é apto a fazer uma avaliação do ambiente de trabalho estrutural e organizacional e do trabalhador (avaliação física, emocional e sociocultural). Durante o processo avaliativo do trabalhador, são observados aspectos da amplitude de movimento, força muscular, coordenação motora ampla e fina e aspectos emocionais, como também a indicação de órteses ou próteses que facilitem o desempenho ocupacional nas Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD’s) e nas Atividades Instrumentais de Vida Prática (AIVP’s). 
 A intervenção ocorre através de atividades selecionadas com enfoque na prevenção, no tratamento e/ou na reabilitação em uma abordagem individual ou grupal minimizando o cansaço e o desgaste do trabalhador, prevenindo acidente de trabalho, doenças ocupacionais e o absenteísmo e proporcionando a produtividade e a satisfação com o seu trabalho, de acordo com as necessidades individuais. Utiliza-se de um planejamento de atividades terapêuticas como exercícios laborais, dinâmicas de grupos, alongamento e relaxamento, dentre outras. A saúde do trabalhador é uma área em que a Terapia Ocupacional vem de desenvolvendo de forma satisfatória, no que se refere à qualidade de vida do trabalhador, somado a sua autonomia e independência social.
Por Walesca Nunes, Terapeuta Ocupacional

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Como me preparar para uma entrevista de emprego

Quer saber como se preparar para uma entrevista de emprego? Este pode ser um dos momentos de maior pressão quando estamos buscando um posto de trabalho. 

Para ir bem nessa etapa, o candidato precisa se preparar. São muitos detalhes e pontos a desenvolver – deixar tudo para a última hora, ou “improvisar”, pode ser arriscado.
Essa preparação não deve começar na véspera. Na realidade, ela começa com o currículo, que guiará a conversa com o recrutador. Nele, procure apresentar resultados, além das habilidades e conhecimentos. Treine contar e explicar cada um dos pontos que você descreve no documento.
E também saiba resumir a sua trajetória em poucos minutos, sem esquecer de passar pelos momentos ou fatos mais relevantes.
Não deixe de pesquisar a empresa. Além de, na maior parte das entrevistas, os recrutadores perguntarem sobre o que o profissional sabe, aprender sobre a companhia ajuda a entender de quem ela precisa em seu quadro de funcionários. É de alguém que lida bem com autonomia e rapidez? Ou de quem trabalha muito bem em equipe?
Outra coisa a ser trabalhada é a confiança. Tudo bem estar nervoso, mas controle os sinais e os substitua com sinais de segurança e autoconfiança (o que é diferente de arrogância, cuidado!).
A seguir, confira tudo o que é preciso – desde à preparação, até o que fazer depois da entrevista de emprego.
Como se preparar para uma entrevista de emprego
O autoconhecimento é um dos pontos mais relevantes, porque influencia diretamente em como a pessoa conta a sua história. É importante ter clareza sobre a trajetória, experiências anteriores relevantes, pontos a desenvolver, erros do passado, limitações e ter um plano, pelo menos de curto prazo, para a carreira.
Também é possível treinar para os testes online, como os de capacidade analítica, inteligência espacial, análise crítica de texto e até resolução de cases. Busque referências na internet! Você pode pesquisar por testes de lógica, de inglês ou desafios de cases. .
Não basta só se conhecer, você precisa saber contar a sua história. Afine sua habilidade de "storytelling". Se tem uma frase que com certeza será dita durante a entrevista de emprego é: “Me fale sobre você”. Por isso, saiba narrar sua trajetória de forma “curta”, tenha uma versão de 5 minutos, e “longa”, com cerca de 8 minutos.
Utilize o método STAR, um jeito de estruturar que ajuda na hora de narrar suas conquistas. STAR é um acrônimo para Situação, Tarefa, Ações e Resultado. Basicamente, é só seguir essa ordem ao narrar seus feitos. Assim, garante que nenhum ponto importante ficará de fora.
Atualmente, as companhias buscam candidatos que se adequem à sua cultura – o famoso “fit cultural” -, por isso é muito importante estudar sobre a organização para a qual se aplica. Além disso, é bom saber sobre o contexto da empresa, em específico. Estude os seguintes pontos:

  • Macroeconomia: Você não precisa ser um expert, mas é bom saber como anda a situação política e econômica do Brasil. Qual a situação mundial? Qual é a aposta para ser a nova superpotência mundial?
  • Indústria: Quem são os principais clientes no setor da empresa? E os principais concorrentes? Quem domina o mercado?
  • Empresa: Como é a cultura da empresa? Sua missão, visão e valores? Como ela se comporta nas redes sociais? Como sua marca se posiciona? Quais seus principais produtos?
  • Área/função: O que a área para qual você está se candidatando faz? Como se encaixa na empresa como um todo? Qual é o perfil dos profissionais? Como você pode contribuir para essa área?
Por fim – e, definitivamente, não menos importante – estude as perguntas mais básicas, sem se esquecer de se preparar para as mais difíceis. Não dá para prever as questões mais originais que o recrutador fará. Mas, tendo pesquisado sobre a empresa, você pode tentar se preparar para responder pontos que surjam.
Por exemplo, se autonomia é um foco da organização, pense em como explicaria como você lida com esse valor durante o dia a dia. E assim por diante. Confira essa lista de perguntas mais difíceis para se inspirar!
Como escapar de “saias justas”
Algumas saias-justas podem ser evitadas. Por exemplo: atrasos. Quem mora em lugares que têm trânsito diariamente, precisa sair mais cedo. Mas se acontecer, ligue para o recrutador quando perceber que não vai conseguir cumprir o horário e explique honestamente a situação. Dê espaço para ele decidir se espera você chegar, ou se remarca a entrevista de emprego.
Quando o entrevistador pergunta algo com que você não está confortável em responder, como sobre sua idade, avalie o contexto e responde com sinceridade.
“Se for muito mais velho do que a média dos profissionais da empresa, diga que isso não interfere na sua disposição para aprender. Se for muito mais jovem, deixe claro que tem maturidade suficiente para assumir a posição”.
Já no começo da conversa, você pode perceber que o entrevistador está sendo meio “frio”, ou mal-humorado. Lembre-se que ter dias ruins é comum e pode acontecer com todo mundo. Não encare como uma questão pessoal, relacionada a você, nem deixe que seu nervosismo aumente por conta disso.
Avalie o clima: tente “quebrar o gelo” com assuntos amenos no início da conversa e, se o interlocutor se mostrar fechado, foque em ser objetivo e dar respostas diretas.

Pensemos antes de irmos para a entrevista, já teremos passado por uma primeira seleção baseada no currículo. Ou seja, se nos chamaram para a entrevista, é porque somos sérios candidatos para a vaga; caso contrário, a empresa não gastaria recursos nos chamando para uma entrevista. Ou seja, o que vamos ganhar ou perder nesta fase depende de como responderemos às perguntas que nos façam.
Na entrevista, os recrutadores querem te conhecer pessoalmente, avaliar a imagem que você passa, como você se expressa, se sabe controlar o nervosismo e, obviamente, muitos outros aspectos relacionados direta ou indiretamente com a vaga para a qual você está se candidatando.

No fim das contas, cada entrevista, cada entrevistador e cada candidato são um mundo a parte. Neste sentido, a pessoa que normalmente fica com a vaga é aquela que tem uma maior habilidade para ler a própria entrevista e colocar em sintonia estas três partes.

Por psiquiatra Gisele Serpa

quinta-feira, 23 de maio de 2019

O Jovem e escolha profissional

O Jovem e escolha profissional
O que você quer ser quando crescer? Quem não escutou uma pergunta dessa quando era criança, pois é! Todos nós já escutamos esse questionamento, mas é por volta dos  16 e 17 anos, na fase da adolescência que essa realidade começa a ser configurada, pois é chegado o momento da decisão profissional e nem sempre estamos preparados para esse grande desafio.
Muitos jovens querem crescer, evoluir e usufruir de suas conquistas. Para tanto a escolha da profissão é um passo importante na vida de qualquer pessoa e alguns jovens não tem ideia sobre qual carreira seguir e vem a seguinte questão, como escolher a profissão certa? Não há formula mágica A escolha de uma profissão é a construção de um projeto de vida e é uma das grandes preocupações dos pais quando os filhos chegam ao Ensino Médio.
Escolher uma profissão é mais do que marcar um X num formulário, pois envolve interesses,  desejos, habilidades,  dúvidas e necessidades de aprovação da sociedade (família, amigos e outros).  As dúvidas mais frequentes entre os jovens dizem respeito ao futuro. Muitos se perguntam se serão bem-sucedidos nas profissões que escolherem, se vão gostar de trabalhar nessa área, se vão se inserir no mercado de trabalho depois de formados. Existe um grande medo de fazer a “escolha errada”e não alcançar o esperado sucesso profissional.
O que pode favorecer a  escolha profissional?
A escolha profissional não depende da idade, mas sim da maturidade de cada um. A capacidade de decisão é formada desde a infância quando a criança tem a oportunidade de escolher algumas coisas sem a ajuda dos pais, assim, quando chega na hora de decisões mais  importantes pode se sentir mais seguro para encará-las.Ter vários conhecimentos é fundamental para decidir. O primeiro é o conhecimento de si mesmo, suas habilidades, interesses, motivações, características pessoais.  O jovem precisa ter clareza de quem ele é, o que deseja para o futuro para, assim, achar profissões compatíveis com seus interesses e identificações. 
O segundo passo é o conhecimento da realidade ocupacional: ler, conversar com quem está atuando no mercado de trabalho, acompanhar se possível a rotina de algum profissional e conhecer a matriz curricular dos cursos que pode ter interesse. Com esse conhecimento, o jovem poderá avaliar com mais clareza o que realmente lhe identifica.

Expectativa familiar e escolha profissional
Um cuidado que precisa ser tomado é quanto aos pais que precisam estar atentos, para não projetarem em seus filhos suas expectativas quanto à carreira e sucesso profissional, baseados em suas próprias crenças e experiências pessoais passadas. Frases como: “Você tem que ser médico como seu pai, que já tem um consultório onde você poderá trabalhar!” ou “Nesta profissão você não vai ganhar dinheiro ou ser bem sucedido!”podem ser extremamente prejudiciais na medida que se fazem imposições ao adolescente sem considerar seus talentos e individualidades.
Os pais têm um papel importante nessa escolha. É fundamental que possam compartilhar suas experiências com a profissão, como foi a sua entrada no mercado de trabalho, as habilidades que identificam em seus filhos, mas sem impor a sua vontade. O importante é que eles ofereçam apoio nesse momento e possam ajudar os filhos a ter autonomia e desenvolver a maturidade para uma escolha mais consciente e segura. É importante frisar que não há nada de errado em seguir a carreira dos pais, contanto que o jovem realmente se identifique com a profissão.

Há também a influência do grupo de amigos, onde todos estão vivenciando a mesma situação. O jovem pode identificar-se com seus pares e, muitas vezes, para ter aceitação no grupo, adere à opinião dos mais “influentes”. Isso, geralmente não dura muito tempo e faz parte do processo de amadurecimento e da formação da identidade do jovem.
Muitos jovens ainda escolhem sua profissão motivados pelo fator financeiro, quanto que  poderão ganhar no futuro e isso, é claro, é uma preocupação necessária para a sobrevivência. Entretanto, uma escolha profissional consciente não deve se basear apenas no fator financeiro, mas deve somar às características pessoais e os outros motivos em exercer uma profissão. 

A escolha profissional é um ritual de passagem  na nossa cultura que pode ser difícil e sofrido para os jovens, pois estes passam por algumas transformações internas e externas e que ao escolher uma profissão estão também lidando com “lutos”,que seria o abrir mão de possibilidades que também possam se identificar. Escolher uma profissão não é um fato isolado, mas algo que se insere no todo da vida, intrinsecamente ligada à individualidade, à realização, aos sonhos, esperanças, fantasias, medos. Na contramão deste processo, a sociedade pós-moderna capitalista tem favorecido cada vez menos espaço para o contato do ser humano com a  sua  singularidade. As exigências sociais, bem como as expectativas familiares nem sempre respeitam o tempo necessário para que o jovem possa fazer o seu caminho de escolha. Isso se confirma, por exemplo, quando buscamos uma escola de educação infantil para nossos filhos e vemos na campanha de marketing da instituição que o foco da educação é o vestibular.

A escolha profissional é, provavelmente, a primeira grande escolha da vida de uma pessoa, por isso, a importância, muitas vezes de participar de um processo de  orientação profissional que possa ajudar o jovem a tomar contato com os seus motivos internos e externos, facilitando  uma decisão mais clara e consciente de si e dos fatores que interferem na sua tomada de decisão, e que muitas vezes pode gerar conflitos, favorecendo a  quadros de grande ansiedade, levando até  situações de adoecimento devido as pressões e o medo de fazer a escolha errada. A verdade é que não existe uma escolha certa ou errada, e sim a escolha possível dentro das minhas possibilidades e condições de fazer essa escolha.

Neste processo de escolha, a  Orientação Profissional pode ser uma estratégia de grande valia para afinar a visão e afunilar as muitas possibilidades, pois por meio de um processo estruturado o orientador profissional poderá favorecer o autoconhecimento através do uso de diversas técnicas, instrumentos, jogos de informação profissional,  estratégias de ação e atividades que auxiliam na reflexão sobre si mesmo, da própria história, sobre as possíveis profissões e expectativas em relação ao futuro e ao papel que se quer ocupar na sociedade.
Assim, muitos jovens e familiares que passam por este momento tão importante, podem buscar estratégias e soluções que auxiliem os que ainda não sabem ou têm dificuldades de decidir. O caminho será sempre o que realiza o coração e lhe faz crescer em humanidade. Afinal, não há valor que pague a sensação de termos encontrado nosso lugar no mundo!
Roberta Cavalcante
Psicóloga Clinica e Orientadora Profissional e de Carreira 
opc@robertacavalcante.psc.br

quinta-feira, 16 de maio de 2019

A Aposentadoria chegou, e agora

A Aposentadoria chegou, e agora?

Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky, vivemos em uma sociedade hipermoderna, permeada pelo hiperconsumo e pela efemeridade, ou seja, onde tudo é passageiro, descartável e raso, concomitantemente, queremos consumir, ou melhor, hiperconsumir: consumir produtos, marcas e estilos de vida (lifestyles) .
Dessa maneira, para dar conta de uma lógica hiperconsumista, incorporamos a dinâmica contemporânea da hiperprodutividade de forma que somos convocados a entrarmos em um ciclo de produzir-consumir, sendo essa produção voltada para a prática laboral formal.  As máximas “o trabalho dignifica o homem” e “Deus ajuda quem cedo madruga” vão sendo naturalizadas de maneira que o trabalho é divinizado e o sujeito contemporâneo é valorizado a partir de seu envolvimento com ele. A ideia de sucesso vai sendo construída, portanto, a partir de referências laborais. 
A contemporaneidade supervaloriza o trabalho e, sobretudo, o trabalhador. Assim, podemos pensar: e quando a aposentadoria chegar? O sentimento muitas vezes é de luto, de perda de valor individual, não existe mais a rotina de trabalho, a convivência com os colegas, a ocupação do tempo e a condição de trabalhador.
O impacto para a vida do sujeito se constitui de diversas formas, sendo diretamente influenciada pela relação que o mesmoestabeleceu com o trabalho ao longo de toda a sua história. Se, ao longo da vida, o trabalho ocupou grande parte da minha vida, de forma que não investi em outros aspectos, provavelmente vou sentir mais o processo de luto do que aquele sujeito que dividiu sua energia em outros âmbitos de vida.
Estamos falando de projetos de vida! O evento da aposentadoria convoca o sujeito a pensar na sua forma de viver, a repensar seus projetos e sonhos. O que fazer após a aposentadoria? Não existe receita pronta. Precisamos construir nossa própria receita, adicionando aqueles ingredientes que nos são mais saborosos. Existem aquelas pessoas que voltam ao mercado de trabalho após a aposentadoria, mas escolhendo, muitas vezes, outra rotina, outra função, fazendo escolhas mais leves, sem o peso da obrigação e da necessidade de sustento. Tem aqueles que voltam ou começam a estudar. Outros vão cuidar da casa, viajar, investir nas relações. São infinitas as possibilidades. Como eu disse, não existe receita!
Na psicoterapia, o terapeuta atua como um facilitador desses processos de mudança e de elaboração dessas perdas e ganhos gerados pela aposentadoria. O importante aqui é que a pessoa não se aposente de si mesma e possa ver possibilidades e potência nessa fase da vida. Como dizia o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre: “Não importa o que me foi dado, o importante é o que eu faço com o que recebi”, ou seja, não somos determinados pelo nosso contexto de vida, mas agentes ativos de transformação daquilo que nos acontece.

Por Fernanda Marinho, psicóloga

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Afastamento do trabalho: o que fazer?

Os transtornos mentais estão entre as principais causas de perdas de dias de trabalho no mundo. Em casos leves, há perda de  4 dias ao ano. Em casos graves há perda de cerca de 200 dias no ano. 
O estabelecimento da relação causal entre agravos à saúde mental e o trabalho é objetivo de questionamentos. Serviços de saúde, órgãos previdenciários, sindicatos e serviços de medicina do trabalho e segurança do trabalho das empresas informam ser impossível estabelecer nexo causal devido à “invisibilidade” dos sintomas psíquicos
Dessa forma, existem poucos profissionais treinados no reconhecimento e prevenção das doenças ocupacionais, não sendo feita a devida associação entre os riscos ocupacionais e a doença do trabalhador, sendo importante investigar a história clínica e ocupacional do paciente.


Afastamento do trabalho
Se o transtorno mental for comprovadamente causado pelo ambiente de trabalho, ao fazer o acompanhamento com o médico, é possível começar a reunir documentos e dar início ao processo de afastamento do trabalho. Será necessário apresentar laudos e demais provas que comprovem que o transtorno está sendo causado pelo local de trabalho.
Diagnósticos de burnout, transtorno de adaptação, Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), por exemplo, deverão comprovar que essa condição foi gerada dentro da empresa em que o paciente trabalha.  
Direitos do trabalhador
Caso o quadro de saúde mental evolua, prejudicando cada vez mais a saúde e produtividade do trabalhador, ele deverá passar por uma perícia no Instituto Nacional do Seguro Social, o  INSS. O instituto é responsável por diagnósticos que observam se a doença é passageira ou crônica, direcionando o trabalhador em cada um dos casos.
Ou seja, se o diagnóstico for de um quadro auto-limitado, com possibilidade de melhora e recuperação, o trabalhador terá direito de receber o auxílio-doença, com afastamento até retomar as atividades. Se o diagnóstico for de doença crônica, com prejuízos globais, como a esquizofrenia, ele poderá ser aposentado por invalidez.

Como é a perícia do INSS?
Como exposto acima, a perícia para obtenção de benefício previdenciário é um procedimento feito para comprovar o desenvolvimento de uma condição de saúde que foi causada pelo trabalho. Quando o trabalhador é considerado incapaz de exercer sua função por mais de 15 dias ele tem direito ao auxílio-doença.
Porém, este benefício só é válido se for comprovada a incapacidade da pessoa de trabalhar por doença. Além disso, o tipo de benefício varia de acordo com o tempo necessário para a recuperação, podendo chegar à aposentadoria por invalidez se a pessoa não tiver mais capacidade para voltar a trabalhar.

Como é feita a perícia?
Um profissional capacitado na área vai realizar a perícia médica, o médico perito do INSS. Ou seja, ele fará um diagnóstico detalhado do estado de saúde do paciente. É importante destacar: só o laudo pericial dos peritos do INSS é válido para dar início ao processo de afastamento ao trabalho, com auxílio dos  atestados de médicos que acompanham o trabalhador. 
Por isso, agende uma consulta médica e se o médico psiquiatra sugerir afastamento, marque uma consulta diretamente no INSS. Lá você poderá dar início ao processo do benefício. 

Quais direitos o trabalhador tem?
Em um caso comprovado de transtorno mental, o trabalhador tem direitos e benefícios trabalhistas e também previdenciários. Porém, esses direitos são assegurados aos trabalhadores que sofrem de doença mental e que são incapacitados de cumprir as suas funções. Como dito anteriormente, a maneira correta de buscar os benefícios é através do INSS.
O trabalhador com doença comprovada por causa do seu trabalho poderá receber auxílio-doença, auxílio-acidente ou até aposentadoria por invalidez. Ou seja, o benefício depende da gravidade e do tempo de recuperação. Em alguns casos, o trabalhador tem direito a uma indenização da empresa causadora do transtorno. Porém, os casos devem ser analisados e são de direito do trabalhador.

Pedir afastamento é a melhor solução?
O tratamento do transtorno mental deve seguir as orientações médicas. Por isso, siga buscando auxílio deles, mesmo com o afastamento do trabalho. 
Fazer psicoterapia, atividade física, cuidar do sono, da alimentação, buscar atividades de lazer e relaxantes, encontrar amigos. Além disso, existem alternativas, como diversas maneiras de mudar de carreira ou buscar um novo emprego que poderá trazer mais satisfação. É importante desenvolver atitudes que façam acreditar que existem motivos reais para se estar vivo e fazer a diferença no mundo em que vivemos. Aproveitar cada momento vale a pena quando realmente acreditamos em um significado especial para a vida.

Gisele Serpa, psiquiatra

terça-feira, 7 de maio de 2019

Síndrome de Burnout

Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional (SEP)
Em 1986, a psicóloga Christina Maslach referiu que o burnout é descrito como uma síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional, desumanização (cinismo) e reduzida realização pessoal no trabalho.É uma resposta prolongada e intensa aos estresses emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. A síndrome tem alta prevalência em bancários, profissionais da saúde, professores, estudantes de pós-graduação e delegados.
A prevalência de Burnout na população brasileira é 2,42%, 33% estavam em situação preocupante, 4%: alto grau de estresse e com risco de desenvolver a síndrome.
A síndrome é presente tanto nas profissões com demanda de esforço mental quanto de esforço físico; parte dos portadores ocupa cargo de maior responsabilidade (pressão por metas e falta de compartilhamento de responsabilidade). Está presente também em trabalhadores com demanda física, que trabalham com repetição, pressão, cargas horárias extenuantes e alto esforço físico: profissões menos especializadas.

  • Características das três dimensões do SEP/Burnout
  • Exaustão emocional: tensão básica com sensações de sobre-esforço e de não poder dar mais de si em termos afetivos - fadiga emocional, decorrente das inúmeras interações que o trabalhador deve manter entre clientes e colegas de trabalho, esgotamento de energia e recursos emocionais, devido ao contato intenso e constante com os problemas de outras pessoas.
  • Despersonalização ou cinismo: refere-se ao contexto interpessoal no qual se desenvolve o trabalho; supõe o desenvolvimento de atitudes distanciadas afetivamente frente as pessoas a quem se presta serviço; ausência de sensibilidade - endurecimento afetivo, com distanciamento frente às pessoas, silêncio, uso de atitudes depreciativas, na tentativa de culpar os usuários pela sua própria frustração.
  • Baixa realização pessoal ou ineficácia: representa a avaliação que o indivíduo tem de seus desempenhos ocupacional e pessoal, e é refletida por perda de confiança na realização própria, com a presença de auto-conceito negativo. Há redução significativa dos sentimentos de competência relacionados à auto-valorização, cujo objeto são as pessoas.
       Os fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome são:
  • Falta de apoio no trabalho;
  • Má relação interpessoal;
  • Assédio moral;

    A SEP é pouco diagnosticada, embora seja bastante comum. Após o diagnóstico, os pacientes se sentem mais aliviados, pois podem ter melhora da qualidade de vida com o tratamento. O ponto crítico do tratamento é o afastamento profissional, pois para a maioria não é uma opção a ser considerada, já que pode significar perda de ambiente no concorrido mercado de trabalho.
As estratégias de enfrentamento incluem:
  • Medidas de promoção de saúde no local de trabalho têm papel significativo na prevenção da síndrome, além de intervenções na organização do trabalho, melhorias no ambiente profissional, na comunicação e no combate ao assédio moral.
  • Saber reconhecer os sintomas nas relações pessoais, no corpo e mente;
  • Tentar eliminar estressores possíveis e aceitar estressores inevitáveis;
  • Reinterpretar estressores inevitáveis
  • Reconhecer limites e respeitá-los
  • Tomar atitude ativa diante da vida
  • Concentrar-se na busca de soluções e não nas emoções geradas pelo evento estressor;
  • Assumir responsabilidade pela vida
  • Aprender a dizer NÃO
  • Utilizar apoio de colegas de trabalho
  • Lembrar que o evento ruim vai acabar um dia
  • Os efeitos neuroprotetores e antioxidantes dos antidepressivos são bem descritos e podem ter benefício na terapia farmacológica da SEP.
  • Para atenuar sintomas, é interessante rir, fantasiar, usar senso de humor, tirar férias mentais ainda que por breves momentos durante o dia, além de fazer atividade de relaxamento e atividade física.

Por Gisele Serpa, psiquiatra
  • Medidas de promoção de saúde no local de trabalho têm papel significativo na prevenção da síndrome, além de intervenções na organização do trabalho, melhorias no ambiente profissional, na comunicação e no combate ao assédio moral.
  • Medidas de promoção de saúde no local de trabalho têm papel significativo na prevenção da síndrome, além de intervenções na organização do trabalho, melhorias no ambiente profissional, na comunicação e no combate ao assédio moral.
  • Medidas de promoção de saúde no local de trabalho têm papel significativo na prevenção da síndrome, além de intervenções na organização do trabalho, melhorias no ambiente profissional, na comunicação e no combate ao assédio moral.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

O trabalho.

O trabalho

Esse mês de maio iniciamos a série trabalho, com vários posts relacionados à função laboral.

O trabalho é parte integrante da vida da maioria das pessoas. Desempenha papel central na vida do indivíduo, contribui para sua maneira de ser, determina sua identidade e o torna útil dentro dos contextos familiar e social. O trabalho permite:

•Independência econômica e reconhecimento;
•Concretizar os sonhos, atingir os objetivos de vida, é também uma forma de expressão;
•Demonstração de ações, iniciativas e aperfeiçoamento de habilidades pessoais e em grupo;
•Convivência com pessoas, lidar com diferenças, aprender a não ser egoísta, pensando no objetivo do trabalho; 

Já na escola, observamos esse papel de promover a conquista de espaço, respeito e consideração dos demais ao realizar uma atividade bem feita, gerando auto-estima, satisfação pessoal e realização profissional

O trabalho, quando é satisfatório, gera prazer , alegria e saúde, é fonte de subsistência pessoal e familiar e de posição social. Somos conhecidos pela nossa categoria profissional. Quando é desprovido de significado, não reconhecido ou fonte de ameaças à integridade física e psíquica, impõe sofrimento ao trabalhador.

Dessa forma, a Terapia ocupacional: busca previnir, tratar e reabilitar e criar condições para o retorno laboral de pessoas afastadas com enfermidades.
As indústrias surgiram no final do século XIX e hoje têm grande impacto na sociedade. Os empregos gerados são  responsáveis pelo sustento da maioria das famílias, estamos a maior parte do tempo no ambiente de trabalho, impactando nas relações humanas. O mercado tem se tornado complexo, competitivo e dinâmico, com novos e maiores desafios impostos pelas organizações, aumentando o nível de exigência aos trabalhadores. 

As relações atuais de trabalho se apresentam em três contextos:

•Micro: diz respeito ao indivíduo e sua trajetória individual -  levando em consideração, gênero, idade, procedência, etnia, escolaridade, estado civil, experiências de vida, religião, valores pessoais, trabalhos anteriores, papeis desenvolvidos e o seu comprometimento com o trabalho, assim como traços de personalidade.

•Intermediário: empresa ou instituição onde o trabalho é exercido, levando em consideração, o tipo de organização, porte, aspectos éticos da corporação, valores e fatores culturais dos superiores e dos subordinados.

•Macro: remete às tendências globais  e às influências recebidas pela humanidade desde a Revolução Industrial, com inovação da tecnologia da informação.  Prima pela competitividade, redução de custos e diminuição de empregos, informatização das empresas e mudanças na jornada de trabalho. A política econômica neoliberal visa: lucratividade e produção em massa, descaracterizando o trabalho do homem. 

Por Gisele Serpa, psiquiatra

Videogame: vilão da saúde mental?

Os dois lados da moeda: o uso do videogame como recurso terapêutico. Com a ajuda da tecnologia, novas técnicas e abordagens passam a se...